Há um ditado africano que diz: "É na esteira velha que nos sentamos para tecer a nova". Para dizer que no coração de nossas histórias, nossas culturas africanas por vezes encontram respostas adequadas para os grandes problemas que enfrentamos.
A partir desta reflexão, o teólogo marfinense padre Donald Zagore, sacerdote da Sociedade para as Missões Africanas (SMA), comenta à Fides – agência missionária da Congregação para a Evangelização dos Povos - os últimos eventos da Conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas (Cop 26), em andamento em Glasgow, na Escócia, até a próxima sexta-feira, 12 de novembro.
"Uma das riquezas, por exemplo, da cultura africana é sua educação a preservar a floresta, revestindo-a de sacralidade. A história das florestas sagradas não era apenas um mito, mas uma verdadeira arte cultural com propósitos educacionais e morais para sua proteção", explica - de Abidjan – o religioso.
"A ideia da floresta como sagrada evocava a ideia da floresta como um santuário, ou seja, um lugar inviolável, a ser tratado com deferência, veneração e amor", acrescenta o missionário.
"Trata-se de um valor também compartilhado com a cultura europeia através de sua arte filosófica. Autores como Spinoza com seu panteísmo viram através da ordem na natureza uma presença efetiva de Deus. Chateaubriand definiu a floresta como os primeiros templos da Divindade. Estes dias, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, que preside a Conferência até 12 de novembro de 2021, não hesitou em descrever as florestas como catedrais da natureza."
Padre Zagore argumenta que em um momento em que mais de cem países estão empenhados em combater o aquecimento global com o objetivo de deter o desmatamento até 2030, "é necessário não deificar a floresta, mas fazer nascer no coração dos homens e das mulheres este desejo do sagrado no respeito pela natureza em geral e pela floresta em particular, moderando sua exploração material em benefício dos interesses econômicos".
"Colocar o sagrado no centro da criação permitiria ao homem recordar seu verdadeiro papel na criação: o de administrador e não o de dono e proprietário da natureza", argumenta por fim o teólogo da Sociedade para as Missões Africanas.
(com Fides)
Fonte: Vatican News