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Artesãos de Sinodalidade no cotidiano: caminhos relacionais na Vida Consagrada
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Artesãos de Sinodalidade no cotidiano: caminhos relacionais na Vida Consagrada





Por Ir. Veridiana Kiss, ASCJ*


Papa Francisco por meio de um percurso pedagógico, em sua mensagem intitulada: “Ascese quaresmal, itinerário sinodal”, por ocasião da Quaresma 2023, convida toda a Igreja a vivenciar um itinerário dinâmico e sinodal, através de três verbos particulares: subir, escutar e transformar. Valendo-se do texto da Transfiguração, ele coloca em evidência a importância do caminho relacional de intimidade com Deus, partilha da vida com os outros e vivências saudáveis com os ambientes habituais, chamando todos a uma particular atenção e sensibilidade em ressignificar nossas relações cotidianas.


É notório o fato que, nas relações interpessoais a transformação toma um rosto real e palpável, por que são nestes encontros e embates ordinários que os indivíduos adquirem novos conhecimentos, possibilidades de crescimento e atitudes renovadas, que entram em sintonia com a espiritualidade de comunhão, para a qual o documento Vida fraterna em Comunidade convoca todos os consagrados a vivenciá-la como dom “Antes de ser uma construção humana, a comunidade religiosa é um dom do Espírito” (VFC, 8).


Sendo assim, o ambiente relacional é o lugar onde nasce e se desenvolve a própria vocação, ou seja, é o espaço teologal de crescimento, identificação, amadurecimento da vida espiritual em sintonia com o amadurecimento do próprio ser relacional em constante transformação. Neste sentido, se os aspectos da espiritualidade e a alteridade são fragmentados, o sujeito corre o risco de viver uma consagração desencarnada e sem um sentido de vida, o qual se realiza plenamente na configuração com Cristo, pois “testemunham essas maravilhas com a linguagem eloquente de uma existência transfigurada” (VC, 20).


Percurso sinodal como oportunidade de encontro com a própria identidade pessoal


 


A pessoa humana só pode encontrar-se verdadeiramente com a sua essência e autenticidade no encontro com o outro “a pessoa, que não se possui totalmente, pode-se descobrir sempre e somente em uma outra e finalmente, em um Outro” (Imoda, 2055, 293).


A relação favoresce a autorealização, principalmente quando é viviva em um convívio profundamente centrado no bem comum. O sentido da abertura e disponibilidade a autotranscendência, que se dá na superação de si, o faz descobrir a sua irrepetibilidade e unicidade em um processo continuo de autoconhecimento e crescimento mútuo. “A tarefa de se desenvolver como pessoa, respeitando a realidade do mistério, é indivisilmente uma tarefa de individuação e de relação. Não somente não há individualização sem relação, e vice-versa, como, quanto mais se alcança a individualização, tanto mais se pode realizar ou se realizou a relação; e, quanto menos a individualização é, tanto menos a relação será...O desenvolvimento se apresenta, então, como a história de um progressivo afastamento no sentido de uma separação de uma espécie de matriz menos diferenciada para ir progressivamente em direção de um encontro, de uma comunicação que, ao menos potencialmente, é destinada a se tornar sempre  mais ampla e mais profunda à medida em que a pessoa se torna mais plenamente ela mesma e, portanto, também mais separada e mais individualizada” (Imoda, 2005, 295).


 Desta forma, podemos considerar que a relação com o outro reforça os confins da própria identidade pessoal e se torna uma ocasião vantajosa para construir uma proposta comum, onde as pessoas se reconhecem em sua própria realidade de valores e se estimam em suas respectivas potencialidades, talentos e dons, contribuindo assim a construir, como artesãos de fraternidade um clima de comunhão que facilita o alcançar das metas e objetivos comuns. Portanto, podendo prosseguir criativamente no caminho de transcendência que os conduzem ao encontro com o Totalmente Outro que é Deus.


Um caminho sinodal como uma oportunidade de encontro com a própria identidade comunitária


 


Os desafios e as dificuldades que os sujeitos encontram nos ambientes comunitários podem se tornar uma oportunidade  valiosa para avançar em direção a uma plena integração da dimensão humana e espiritual, descobrindo novos horizontes e panoramas diversificados jamais vislumbrados antes, pleno de sentido e ocasiões construtivas de avanços na cotidianidade.


Através das atitudes de escuta e do colocar-se em caminho juntos diante da diversidade do outro será possível descobrir as verdadeiras riquezas de cada um e direcionar os esforços verso a finalidade da vida em comum com o mesmo objetivo e o mesmo ideal de santidade. Em todos os contextos aos quais a vida em comum vem assumida como escolha de vida, ela é sempre um lugar onde, dia por dia, se recebe ajuda de pessoas consagradas, portadoras de um comum carisma, para responder às necessidades dos últimos e aos desafios da nova sociedade” (VFC, 43).


Toda pessoa que se realiza em um projeto concreto de consagração se sente interpelada pela continua necessidade de integração nas suas experiências relacionais para escolhas coerentes e concretas com seu projeto de vida. Neste seu processo de crescimento e amadurecimento a pessoa toma consciência daquilo que se é, e do seu modo de relacionar-se com o ambiente que a circunda, realizando em si um percurso de conversão na consciência de sua vivência passada, daquilo que se vive no presente com uma perspectiva de futuro transformado que pela graça de Deus que sobrepõe a natureza humana.


Por conseguinte, o ambiente comunitário se configura como lugar de transformação, da experiência do Sagrado que se dá e se concretiza nos irmãos(ãs) colocados(as) em suas vidas pela providência, ou seja, “nascidos não da vontade da carne e do sangue, não de simpatias pessoais ou de motivos humanos, mas de Deus” (VFC, 1),  recuperando em cada um os eventos da própria vida real, aquela dimensão transcendente que caracteriza a verdadeira essência da natureza humana para reconhecer os “vestígios da presença de Deus, que guia toda a humanidade para o discernimento dos sinais da sua vontade redentora” (VC, 79). Mesmo sabendo que se trata de um caminho longo, cansativo, cheio de obstáculos e desafiante, permanece a certeza de que somente no fato de se caminhar juntos(as) através do diálogo, da escuta e da participação, será possível encontrar o verdadeiro mistério de uma existência realizada no ordinário da vida, a vontade de Deus em cada circunstância e a missão que Ele conferiu a cada pessoa chamada. Conscientes de que o caminho é longo, mas sabendo que este é o único meio para descobrir a “grande história a ser construída” (VC, 110), continuemos caminhando abertos às novidades do Espírito.


Referências Bibliográficas:


CONGREGAÇÃO PARA OS INSTITUTOS DE VIDA CONSAGRADA E AS SOCIEDADES DE VIDA APOSTÓLICA. A Vida Fraterna em Comunidade. “Congregavit nos in unum Christi amor”. Edições Paulinas, São Paulo, 1994.


IMODA, F. Sviluppo umano, psicologia e mistero. EDB, Bologna, 2005.


GIOVANNI PAOLO II. Esortazione Apostolica Post-Sinodale. Vita Consecrata. 25 marzo 1996.


Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2023: https://bit.ly/3lXq8PW


 


*Ir. Veridiana Kiss, é Apóstola do Sagrado Coração de Jesus. Desenvolve pesquisas na área da Vida Religiosa Consagrada e Sacerdotal. E-mail: ascjveridiana@gmail.com



Fonte: Vatican News

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